O jogo de poder entre Brasília e Washington passa por uma inflexão silenciosa, mas decisiva.
Nos últimos meses, um movimento discreto começou a redesenhar a relação entre Brasil e Estados Unidos. Pela primeira vez em anos, os canais de comunicação entre os dois governos não passam pelo filtro dos radicais ligados a Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Essa “brecha” aberta na Casa Branca representa não apenas uma mudança de rota, mas o enfraquecimento de uma estratégia que tentou monopolizar a interlocução com Washington a partir de uma agenda ideológica e personalista.
Não foi obra do acaso. Empresários brasileiros de diferentes setores, aliados ao próprio governo federal, atuaram nos bastidores para reposicionar o Brasil de forma pragmática diante do maior parceiro ocidental. A lógica é simples: o comércio, os investimentos e a geopolítica exigem maturidade, não servilismo ideológico. E nesse tabuleiro, os Bolsonaros deixaram de ser indispensáveis.
Há, porém, um fator ainda mais simbólico. Donald Trump, que por anos tratou a turma bolsonarista como fiéis escudeiros, parece ter despertado para a realidade: percebeu que exageros, distorções e até mentiras foram vendidas a ele como “verdades absolutas” sobre o Brasil e seu governo. Quando a percepção chega ao ex-presidente norte-americano de que foi usado como peça em um jogo menor, o castelo de cartas começa a desmoronar.
O impacto político é claro: abre-se espaço para que Brasília dialogue diretamente com Washington, sem atravessadores ideológicos. A consequência imediata é o esvaziamento da influência de Eduardo Bolsonaro e seus aliados no tabuleiro internacional.
No fundo, a pergunta que ecoa é: Trump acordou? A julgar pelos sinais, sim. E, ao acordar, ele expôs a fragilidade de quem apostou todas as fichas em uma relação pessoal e subestimou a força das instituições e do pragmatismo.
O Brasil, por sua vez, parece finalmente entender que sua posição geopolítica não pode ser reduzida a caprichos de grupos ou famílias. O futuro das negociações bilaterais exige seriedade, amplitude e visão estratégica.
Joel Silva – Radialista e jornalista de formação especializado em mkt político.
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