Resolvi escrever motivado por um print que anda circulando mostrando a dívida pública em R$ 7,883 trilhões. O número é verdadeiro, saiu no relatório do Tesouro Nacional de junho. Muita gente compartilhou sem contexto, e aí vale trazer uma linha do tempo pra clarear.
Em 2018, quando Bolsonaro assumiu, a dívida estava em R$ 3,9 trilhões, com prazo médio de quatro anos e cerca de 16% vencendo em 12 meses. Em 2022, quando ele entregou, já estava em quase R$ 6 trilhões. O prazo médio havia encurtado e mais de 22% dos títulos venciam em um ano – ou seja, perfil pior. Agora, em junho de 2025, o estoque chega a R$ 7,9 trilhões, com prazo médio de 4,1 anos e apenas 15% vencendo em 12 meses. Melhorou o alongamento, mas o volume explodiu.
No PIB, a relação dívida/PIB era de 76% em 2018, caiu para 73,5% em 2022 e voltou a 76,6% agora. Ou seja: seguimos no mesmo patamar, mas com números absolutos muito mais pesados.

O ponto é que esse cenário não é novidade: a dívida cresce em todos os governos. A diferença está no ritmo. Hoje enfrentamos além do quadro estrutural – juros altos, déficit persistente e rolagem cara – também choques externos e internos. O tarifaço imposto por Donald Trump atinge exportações brasileiras e pressiona o dólar. Soma-se a isso um ambiente de sabotagem política e fiscal, que amplia a desconfiança e encarece ainda mais o financiamento.
E há outro ingrediente que não pode ser ignorado: a polarização política. Ela rende um sentimento ruim, em que muitas vezes parece que parte do país torce contra. Memes como o do print estimulam ainda mais essa divisão, como se fosse engraçado ver a bomba estourar. O problema é que o efeito não é só interno: essa instabilidade dá munição para gente lá fora. Trump, por exemplo, justifica seu tarifaço alegando déficit e fragilidade fiscal justamente do Brasil – logo eles, que historicamente sempre foram superavitários na balança comercial, e principalmente na relação com o Brasil.
Portanto, o print não mente. A dívida está alta, mas a narrativa em torno dela, alimentada pela polarização, pode ser ainda mais perigosa. No fim das contas, cada governo herda uma bola de neve maior que a anterior, mas quando a política vira torcida contra, a conta explode mais rápido.
Marco | Estoque da dívida | Prazo médio | Vencendo em 12 meses | Dívida/PIB |
2018 (Bolsonaro pegou) | R$ 3,9 tri | 4,0 anos | 16% | 76% |
2022 (Bolsonaro entregou) | R$ 6 tri | 3,9 anos | 22% | 73,5% |
2025 (agora com Lula) | R$ 7,9 tri | 4,1 anos | 15% | 76,6% |
Joel Silva – Radialista e jornalista de formação especializado em Mkt político
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