Opinião de Joel Silva: Campo Grande e sua “bica corrida”

por | maio 10, 2025 | informes, NOTÍCIAS, OPINIÃO/ARTIGO, política

Prefeitura substitui asfalto por bica corrida para tapar buracos: economia ou abandono das vias públicas?

Campo Grande – Em um momento em que a população espera soluções efetivas para a recuperação das vias urbanas da capital, a Prefeitura de Campo Grande adota uma medida polêmica: a utilização de bica corrida em vez do tradicional asfalto para tapar buracos nas ruas. Embora o material tenha utilidade técnica para bases de pavimentação e acessos provisórios, seu uso como revestimento final urbano levanta sérias dúvidas sobre as prioridades da gestão municipal.

A bica corrida é uma mistura de brita graduada, pedrisco e pó de pedra. Por não conter ligantes como o cimento asfáltico, ela se desagrega com facilidade, especialmente sob tráfego intenso ou em dias de chuva. Ainda assim, tem sido aplicada diretamente nos buracos, como se fosse uma solução definitiva — e não é.

Contradição oficial

Em recente entrevista à imprensa, o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Marcelo Miglioli, afirmou que “não falta recurso para o município” e garantiu que a operação tapa-buracos “vai escorrer em ritmo acelerado”. A declaração, no entanto, entra em contradição direta com a prática adotada nas ruas.

Se não há escassez de recursos, por que a prefeitura opta por um material quase sete vezes mais barato do que o asfalto usinado (CBUQ)? A resposta parece evidente: trata-se de uma escolha orientada prioritariamente por critérios econômicos, não técnicos.

Diferença de custo evidencia a escolha

Veja a diferença de custo entre os dois materiais mais utilizados para reparos em vias:
Material
Custo Médio por Tonelada
Bica Corrida
R$ 75
CBUQ (Asfalto)
R$ 500
Improvisação não pode virar regra

Embora a bica corrida seja indicada para preparar a base de um pavimento, seu uso como material de cobertura final, especialmente em vias urbanas com tráfego pesado, é tecnicamente inaceitável. A aplicação tem caráter emergencial e provisório. Usá-la como solução permanente representa um retrocesso na qualidade da infraestrutura urbana.

A população já sente os reflexos dessa política: buracos reaparecendo dias após os reparos, ruas deterioradas em bairros centrais e periféricos, além da sensação de abandono. O “ritmo acelerado” anunciado pela prefeitura não significa eficiência, se a solução aplicada não resiste nem ao primeiro temporal.

Uma economia que pode custar caro

O que se economiza hoje com bica corrida, provavelmente será gasto em dobro no futuro com novas intervenções. A gestão pública precisa prezar pela eficácia do gasto público, não apenas pela sua aparência de economia. E quando o discurso oficial afirma que não há crise de recursos, a justificativa técnica perde completamente o valor.


Joel Silva cursou jornalismo na universidade Uniderp Anhanguera e Mkt Político na Faculdade Estácio de Sá. É jornalista e radialista com mais de 30 anos de carreira tendo atuado na direção da Rádio e TV Educativa e nas rádios FM UCDB, FM Capital, Rádio Globo, Jovem Pan e MEGA 94.

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