O Brasil precisa torcer menos por um time e entender mais o jogo que está em campo
O brasileiro que ainda vibra na arquibancada da polarização, alimentando a narrativa do “nós contra eles”, está perdendo uma chance histórica de enxergar o que realmente importa. O palco da ONU revelou mais uma vez: a geopolítica não perdoa distraídos.
Os Estados Unidos, ocupados por décadas em suas guerras no Oriente Médio, deixaram brechas no próprio quintal. Enquanto isso, a China fincou pé na América Latina, ocupando espaços de comércio, infraestrutura e influência. Nesse tabuleiro, o Brasil é a noiva mais cobiçada. Não por acaso, os olhos de Washington e Pequim se voltam para Brasília, cada um disputando a primazia da relação.
Trump, o improviso e a ratoeira diplomática
Há quem acredite que Donald Trump, em eventual encontro, humilharia Lula. Erram duplamente. Primeiro, porque mesmo em sua versão mais intempestiva, Trump não seria ingênuo a ponto de entregar o Brasil de bandeja para a China. Mas mesmo que repetisse barbeiragens diplomáticas — como fez ao transformar o Salão Oval numa armadilha para líderes como Angela Merkel, Emmanuel Macron e até Shinzo Abe — ainda assim Lula não entraria nesse matadouro como gado de corte.
Mauro Vieira, o chanceler discreto
Se há um personagem que merece atenção, é o chanceler Mauro Vieira. Discreto, eficiente e com faro de diplomata nato, já mostrou firmeza ao declarar à CNN Internacional que a agenda Brasil–EUA ocorrerá, mas seguindo todos os trâmites diplomáticos. Vieira faz exatamente o oposto do que se viu no passado recente, quando o improviso reinava no Itamaraty.
Eduardo Bolsonaro e o vexame diplomático
Ironia do destino: Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, chegou a pleitear o cargo de chanceler. O detalhe é que jamais havia pisado no Instituto Rio Branco, responsável por formar gerações de diplomatas, e que leva o nome do Barão do Rio Branco, o maior responsável pela consolidação territorial do Brasil no início do século XX. Graças à sua habilidade, o país resolveu fronteiras sem disparar um tiro, projetando-se como nação pacífica e soberana. Difícil imaginar alguém assumir o Itamaraty sem ao menos conhecer esse legado.
O que está em jogo
Portanto, quem torce contra pode se frustrar ao ver o Brasil retomar seu protagonismo de potência emergente. E isso em pleno ano eleitoral, o que aumenta ainda mais as tensões internas.
Mas, já que o tema é torcida, a nossa deveria ser outra: que Lula mantenha a postura de líder global que até o próprio Trump reconheceu, sem cair na armadilha que sabota o Brasil há décadas — a tentação de transformar conquistas internacionais em combustível eleitoral.
Mais presidente e menos candidato. Essa deveria ser a torcida nacional.
Joel Silva – Radialista e jornalista de formação especializado em mkt político.
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