“Muito conveniente! Agora o ‘Careca do INSS’ virou personagem de ficção. Só que os milhões desviados dos aposentados são bem reais, assim como os Ferraris e Rolls-Royce, frutos de roubo a quem trabalhou a vida inteira”, disse Tereza Cristina
O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, recusou-se a responder perguntas do relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Em prisão preventiva e apontado pela Polícia Federal como lobista e operador financeiro do esquema que desviou dinheiro de aposentadorias, Antunes presta longo depoimento à comissão parlamentar mista de inquérito nesta quinta-feira, 25/09.
Antônio Carlos Camilo Antunes está preso preventivamente desde 12 de setembro. Segundo as investigações, ele teria movimentado R$ 24,5 milhões em apenas cinco meses. A suspeita é a de que o “Careca do INSS” tenha pago propina a servidores graduados do INSS para facilitar descontos fraudulentos nas aposentadorias. Em uma das transações, teria repassado R$ 7,5 milhões a empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, mulher do ex-procurador do órgão Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho.
Ele negou todas as acusações e atribuiu as denúncias contra ele a “desinformação e fake news”, “inveja, calúnia e difamação”. “Foi dado início a um enredo fantasioso sobre um personagem — esse “Careca do INSS, que não sou eu. Isso nada mais é do que uma narrativa fantasiosa. Nunca fui, não sou e nunca serei esse “Careca do INSS”, afirmou.
“Narrativa fantasiosa é o que ouvimos hoje nesta sessão da CPMI”, disse a senadora Tereza Cristina (PP-MS), que integra a Comissão. “Funcionários deste senhor estiveram aqui e ficou patente a montagem de um intrincado esquema para lavar o dinheiro desviado”, lembrou. “Muito conveniente! Agora o ‘Careca do INSS’ virou personagem de ficção. Só que os milhões desviados dos aposentados são bem reais, assim como os Ferraris e Rolls-Royce, frutos de roubo a quem trabalhou a vida inteira”, completou a senadora.
O depoente reclamou do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-Alagoas) , que estaria demonstrando parcialidade na relatoria da CPMI, e se negou a responder suas perguntas. Mesmo assim, Gaspar fez questionamentos ao depoente: foram mais de 150 perguntas em 50 minutos. O relator quis saber, por exemplo, quais parlamentares, ministros e servidores públicos o empresário visitou. Questionou quando a estrutura criminosa foi montada na Previdência e se o empresário contou com aval de agentes públicos “para meter a mão no dinheiro de aposentados”.
Gaspar apresentou uma foto em que o “Careca do INSS” aparece na companhia de diretores do INSS e do atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz. Na ocasião, em janeiro de 2023, Queiroz era secretário-executivo da pasta. O empresário não respondeu.
Ele também teve de explicar por que se reuniu com o senador Weverton (PDT-MA). ” Na época, eu estava com a representação de uma marca internacional de produtos à base de cannabis. Fui ao “costelão” na casa dele (senador Weverton) para tratar do assunto. Não tenho pauta com o governo. A aproximação foi apenas para tentar entender como anda o processo regulatório de cannabis aqui no Brasil”, afirmou.
Referindo-se a Antônio Carlos Camilo Antunes como “quadrilheiro”, o relator disse que o depoente é “o autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil”. Ele disse que o “Careca do INSS” vai ser condenado e preso pelos crimes que cometeu. O relator acusou ainda o criminalista Cleber Lopes, advogado do Careca, de ser “pago com dinheiro roubado do povo brasileiro”, o que provocu um intenso bate-boca que levou à suspensão temporária da CPMI.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) propôs uma acareação entre o empresário seu ex-funcionário Rubens Oliveira Costa. Em depoimento à CPMI, Costa disse que uma empresa do “Careca” teria repassado dinheiro a duas firmas ligadas a servidores graduados do INSS. O depoente desta quinta-feira concordou com a acareação.
Prisão para advogado Nelson Wilians
Na primeira parte da reunião da CPMI do INSS, os parlamentares aprovaram a prisão preventiva do advogado Nelson Wilians Fratoni Rodrigues. Ele é ligado a Maurício Camisotti, investigado por supostamente ser um dos beneficiários finais dos descontos indevidos contra beneficiários do INSS.
Além da prisão, o deputado Rogério Correia (PT-MG), autor dos requerimentos (REQ 1.868/2025 e REQ 1.817/2025), pede também a quebra de sigilos bancário e fiscal de Nelson Willians Rodrigues e o envio de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as movimentações financeiras do advogado entre 2019 e 2025.
“A Polícia Federal já representou pela prisão preventiva do investigado, em razão dos riscos de obstrução da investigação e continuidade delitiva. Embora o pedido tenha sido negado monocraticamente pelo ministro André Mendonça, do STF, permanecem atuais e graves os fundamentos para a custódia cautelar, diante da magnitude da organização criminosa e do prejuízo bilionário causado a milhões de segurados do INSS”, argumenta Rogério Correia no requerimento.
Nelson Wilians Rodrigues chegou a prestar depoimento na CPMI na semana passada como testemunha na investigação que apura os descontos indevidos no INSS, mas optou por não responder aos questionamentos, respaldado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Convocação da Conafer
Os parlamentares aprovaram 25 requerimentos ao todo.Confira todos os requerimentos aprovados aqui. Eles incluem também a convocação de dirigentes de entidades suspeitas de envolvimento nas fraudes. Um deles é o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, que teve seu nome incluído em oito requerimentos de diferentes parlamentares.
“A Conafer experimentou um crescimento vertiginoso em sua arrecadação, saltando de R$ 6,6 milhões para mais de R$ 40 milhões, coincidindo com o período de intensificação dos descontos indevidos aplicados diretamente nos benefícios previdenciários de milhões de segurados.
As investigações revelaram ainda que a confederação teria recebido aproximadamente R$ 688 milhões por meio de descontos não autorizados”, justifica o relator da CPMI. Outro nome que passa a fazer parte da lista de convocados é o do auxiliar administrativo José Laudenor, sócio do ex-ministro do Trabalho e Previdência Ahmad Oliveira Andrade. Também foi aprovada a convocação de Aline Bárbara Mota de Sá Cabral, ex-secretária do “Careca do INSS” e do empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, ex-sócio de Nelson Willians Rodrigues.
por Assessoria de Comunicação
Fotos Divulgação
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