Uma análise sobre a transformação econômica do estado, que deixa de depender apenas da soja e da pecuária para abraçar a potência global da celulose.
Por décadas, o Mato Grosso do Sul foi definido pelo famoso “binômio boi-soja”. Carne e grãos sustentaram a arrecadação, moldaram a paisagem do campo e garantiram protagonismo no agronegócio brasileiro. Mas o tempo passa, e a economia do estado está em mutação acelerada. Uma revolução silenciosa — e bilionária — está em curso: a ascensão da celulose.
Três Lagoas já é símbolo dessa virada. O que antes era uma cidade média, dependente da pecuária e do comércio regional, virou capital mundial da celulose. Agora, projetos gigantes como a fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo e o Projeto Sucuriú da Arauco em Inocência estão mudando não só a geografia produtiva, mas também o futuro do estado. O impacto é avassalador: milhares de empregos, fluxo migratório intenso, urbanização acelerada e uma nova lógica de arrecadação.
E o dado que não dá pra ignorar: em 2025, a celulose já superou a soja como principal produto de exportação de MS. O estado que antes era só celeiro do gado e dos grãos passa a ser também potência industrial global, integrado a cadeias de valor que atendem Europa, Ásia e EUA.
Oportunidades e riscos
Essa transição abre uma janela de oportunidades: diversificação econômica, arrecadação mais robusta, inserção internacional e até avanços ambientais — já que a base produtiva é o eucalipto, um cultivo renovável que ainda gera biomassa para produção de energia limpa. Mas o risco é real: a dependência excessiva de uma única cadeia produtiva pode transformar o “vale da celulose” num novo monocultivo, tão ou mais arriscado que o velho binômio boi-soja. Além disso, os impactos sociais já se fazem sentir: falta de mão de obra qualificada, pressão sobre serviços públicos, encarecimento da habitação e risco de favelização em cidades pequenas que não estavam preparadas para esse boom.
O que está em jogo
A pergunta que fica é: MS está preparado para administrar essa transição? Não basta aplaudir os bilhões investidos e os recordes de exportação. É preciso política pública séria para formação profissional, planejamento urbano e inclusão social. Caso contrário, a riqueza pode escorrer como água no cerrado, enquanto as distorções ficam. O Mato Grosso do Sul deixou de ser apenas o estado do boi e da soja. Está se transformando no estado da celulose. A questão é se conseguirá ser também o estado da inovação, da qualificação e do desenvolvimento equilibrado — ou se ficará refém de um novo “monocultivo” disfarçado de modernidade.
Joel Silva – Jornalista (Uniderp) e radialista especialista em Mkt político pela Faculdade Estácio de Sá.
0 comentários